Uma investigação do The Sunday Times revela as identidades dos 13 comandantes russos, cujas tropas cometeram crimes de guerra contra os civis ucranianos na cidade ucraniana de Bucha,
nos arredores de Kyiv, no início de 2022.
O jornal recorda o que aconteceu logo após a invasão russa da Ucrânia. As tropas russas ocuparam Bucha, um subúrbio de Kyiv, durante pouco menos de um mês.
Durante estes 29 dias no início de 2022, cometeram crimes tão brutais que esta cidade ucraniana será para sempre sinónimo de crimes de guerra, a Srebrenica [ucraniana] deste conflito.
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O grupo de 9 ucranianos, acusados de pertencerem à resistência TrO e executados pelos ocupantes russos |
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Um dos sobreviventes |
Centenas de moradores foram mortos e torturados; mais de 100 foram enterrados numa vala comum perto de uma igreja ortodoxa. Outros foram mortos enquanto tentavam escapar.
A cave de um campo de férias infantil foi convertida numa câmara de tortura, onde mulheres e crianças eram sistematicamente violadas. Os soldados degolavam, mutilavam vítimas
e matavam pais à frente dos filhos.
Foram encontrados mais de 500 corpos de civis. Dezenas de outros continuam desaparecidos. As Nações Unidas classificaram o incidente como limpeza étnica e um crime contra
a humanidade, mas a rússia afirma que a cena foi encenada pelos serviços secretos britânicos.
Durante as cinco semanas de ocupação russa de Bucha, segundo as autoridades municipais, morreram 458 civis, 419 dos quais foram executados ou morreram torturados. O nome da cidade tornou-se um símbolo da crueldade dos militares russos.
Entre [os comandantes russos] está o Coronel-General Alexander Chayko, comandante do Distrito Militar da Frente Leste, que liderou o exército russo no início da invasão
e era o oficial russo de mais alta patente na Ucrânia.
É o Major-General Sergei Chubarykin, comandante da 76ª Divisão Aerotransportada da Guarda de elite. Os soldados sob o seu comando direto terão cometido a maioria dos
crimes de guerra em Bucha, incluindo execuções, tortura e pilhagens em massa.
De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, o Coronel Azatbek Omurbekov, da 64ª Brigada Separada de Infantaria Motorizada, esteve pessoalmente envolvido em «graves violações
dos direitos humanos», incluindo «ser diretamente responsável por assassinato, violação e tortura».
As suas identidades foram estabelecidas por advogados e investigadores independentes, utilizando informações OSINT, e todos os 13 foram confirmados pelos serviços de informação
ucranianos.
Esta guerra é uma das primeiras em que os investigadores puderam utilizar imagens de CCTV, vídeos de telemóveis e redes sociais para processar criminosos de guerra.
Oito nomes foram verificados pelo Gabinete do Procurador-Geral da Ucrânia (GPU) e as alegações foram confirmadas por avisos oficiais de suspeita emitidos pela Ucrânia
como uma etapa preliminar para um possível processo formal nos tribunais locais e no Tribunal Penal Internacional.
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A rua central de Bucha, onde foi aniquilada a coluna militar russa |
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O cemitério das vítimas, muitos corpos continuam desconhecidos |
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Monumento às vítimas ucranianos de Bucha |
Cinco indivíduos foram identificados através de notificações emitidas aos seus subordinados, cruzadas com registos militares russos disponíveis ao público.
Nenhuma notificação de suspeita foi emitida para estes oficiais individualmente.
Mais de 80 militares sob o seu comando combinado já foram formalmente identificados como suspeitos dos crimes de Bucha. Muitos outros também participaram nestes crimes, mas ainda
não foram identificados, segundo o Times.
Se um militar comete um crime, segundo as Convenções de Genebra, o seu superior não está isento de responsabilidade. No entanto, indiciar um comandante num tribunal
internacional pelos crimes de um subordinado exige um elevado padrão de prova. Para condenar, os investigadores devem provar que os oficiais sabiam ou deviam saber que os seus subordinados estavam a cometer um crime
e não tomaram todas as medidas possíveis para a sua prevenção.
Os procuradores devem apresentar provas que liguem uma unidade militar específica e os seus comandantes aos crimes.
O Sunday Times publicou fotos de cada participante identificado nos massacres sádicos, que podem ser clicadas para obter informações sobre cada um. Esses nomes são:
Alexandre Chayko; Alexandre Sanchik; Azatbek Omurbekov; Valery Solodchuk; Iúri Medvedev; Andrey Kondrov; Sergey Chubarykin; Artem Gorodilov; Dinis Suvorov; Alexey Tolmachet; Vladimir
Seliverstov; Vadim Pankov; Sergey Karasev.
Os autores do artigo explicam como conseguiram estabelecer as identidades destes indivíduos, as circunstâncias dos crimes e as provas obtidas durante a investigação.
A investigação foi conduzida com base em informações recolhidas pelo SBU, pelo Centro de Dossiers, procuradores ucranianos, informações das redes sociais
e informações de fontes abertas de agências militares.
Os autores escrevem que, nas florestas de pinheiros nos arredores de Bucha, os investigadores locais continuam a encontrar os corpos de civis que para lá foram levados e executados.
O SBU afirma ter investigado mais de 100.000 crimes de guerra desde a invasão de 2022.
Em Kyiv, o Procurador-Geral da Ucrânia, Ruslan Kravchenko, está determinado a apurar a identidade dos militares russos que cometeram estes assassinatos.
«Pretendo apurar a identidade do maior número possível de militares russos que cometeram os assassinatos em Bucha» ...
«A última vez que um tribunal como este foi realizado foi após a Segunda Guerra Mundial. Mas ainda hoje, neste preciso momento, há criminosos a serem processados
por crimes cometidos há mais de oitenta anos», disse Kravchenko.
«Se continuarmos a receber apoio do Reino Unido, da União Europeia e dos Estados Unidos, alcançaremos certamente uma paz justa, e todos os criminosos de guerra serão
punidos. Pode demorar dez ou vinte anos, mas certamente acontecerá».
Ler mais The Sunday Times (somente aos assinantes); Novaya Gazeta (resumo em inglês).